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Piano Vermelho: Os SURTOS do Josh Malerman deveriam tem um LIMITE

Atualizado: 4 de dez. de 2024

Um história que começou aparentemente bem e acabou terrivelmente mal.

O livro de Josh Malerman, Piano Vermelho, publicado em 2017, carrega o peso de ser "o livro do mesmo autor de Caixa de Pássaros", o que faz com que o leitor que leu Caixa de Pássaros crie expectativas enormes para a leitura do livro e, infelizmente, o livro não chega nem perto de deixar a impressão positiva que tive ao ler Caixa de Pássaros.

De toda forma, vamos começar pelo começo.

Quando sua aterrorizante missão termina e o destrói por completo, o que importa não é o que você encontrou, mas o que encontrou você.

Em Piano Vermelho, uma banda que fizera sucesso no cenário mundial, mas que agora vive no ostracismo, tem sua rotina interrompida por uma visita de um funcionário do governo dos Estados Unidos que os convida para fazerem parte de uma expedição ao deserto do Namibe com o objetivo de encontrar a fonte de um som tão forte que havia sido capaz de desativar uma ogiva nuclear do exército norte-americano. Philip Tonka e seus amigos da banda, então, decidem se aventurar nessa busca por causa, principalmente, da grana que os EUA estão oferecendo. A narrativa segue a mesma fórmula que consagrou Caixa de Pássaros como um ótimo suspense, intercalando cenas do passado e do futuro (que aqui quer dizer seis meses depois da supracitada expedição), entretanto, nesse caso, essa função não funciona tão bem quanto no primeiro romance do autor.


Primeiramente, preciso ressaltar que me incomodo muito com o modo de escrita de Josh Malerman, com frases e parágrafos curtos, os quais deixam a história meio picotada, com interrupções demais na fluidez da leitura. Desde Caixa de Pássaros sinto isso e aqui é a mesma coisa; poucos são os momentos em que a ação flui, já que na maior parte do tempo todos os acontecimentos são picotados por frases curtas que atrapalham na composição do suspense. Porém, esse fator é uma crítica completamente subjetiva, já que cada leitor deve gostar de um estilo de escrita diferente do outro.

Sobre o livro em si, estive rodeado, durante a leitura, por um misto de sentimentos, bons e ruins. Se por um lado a história criada por Malerman é repleta de suspense, mistério e perigo, por outro, há uma criação pobre de personagens sem personalidade, fazendo com que os protagonistas de Piano Vermelho não sejam carismáticos e não consigam cativar o leitor, de modo que a gente não consegue torcer para eles. Esse ponto é tão problemático que chega um momento em que o leitor, tão apático com qualquer personagem, começa a torcer para que coisas ruins aconteçam, pois elas são mais interessantes que os personagens e seus dramas pessoais.


Dessa forma, esses dois pontos mostram a disparidade de sentimentos que o livro me proporcionou: a história é relativamente bem construída ("relativamente", pois existem muitas inconstâncias na narrativa, o que vou comentar a frente), mas as personagens que a vivem são chatas, sem personalidade, sem motivação, sem "humanidade". Qualquer perigo pelo qual as personagens passam não chega a ser tão ameaçador quanto o livro quer passar, já que o leitor não tem empatia com as personagens. Se elas sofrerem, ok. Se não, ok.

Sobre o enredo, ele é instigante e tem uma construção interessante de mistério por meio de relações com a música e com quebras de barreira entre passado e presente. O modo de narração, com um narrador onisciente, que intercala passado e presente, contribui para a criação e o aumento do suspense. No entanto, existem momentos muito bizarros (e esse, de certa forma, é o intuito do autor, até certo ponto) que ultrapassam o nível de bizarrice proposto.


Por um lado, faz sentido a aparição de soldados de guerras antigas durante a expedição que Philip, pois de acordo com a "mitologia" criada pelo autor, isso era completamente normal, dadas as circunstâncias dos acontecimentos. Por outro, é completamente inverossímil que um doutor do exército apareça nu no quarto de um paciente apenas com o intuito de demostrar poder e intimidação - essa cena é completamente non sense.

[...] Philip vê um homem. O Dr. Szands está nu ao lado da cama. Philip fica em silêncio.

O livro tenta vender uma imagem de maluco para o doutor, mas, novamente, a péssima criação e construção de personagens que existe nesse livro não ajuda nessa tarefa. Outro assunto que gera dúvidas quando a verossimilhança dentro da narrativa é a droga que usam para a recuperação de Philip que não faz sentido se observarmos que o enredo se passa em 1957.


Além do mais, o final acontece muito abruptamente, sem explicar diversas coisas que o livro apresenta no decorrer da história. Se isso funciona em Caixa de Pássaros, não podemos dizer o mesmo desse livro. Sem contar que (e essa parte pode revelar coisas do final do livro), o desfecho de algumas personagens também é inverossímil: como alguns deles conseguiram viver tranquilamente (sem serem procurados ou julgados) depois de matarem pessoas do exército e do governo dos EUA???? Esse é só um exemplo das "sem-noçãozices" do autor.

Enfim, não quero me estender em questões que revelam spoilers. Mas o resumo de tudo é esse: Piano Vermelho é um livro interessante, com um a ideia boa, mas muito mal executada.


Você já leu esse livro?


Vamos conversar nas redes sociais!


Até logo, e um abraço.

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