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RESENHA: Vermelho, Branco e Sangue Azul, de Casey McQuiston

Atualizado: 4 de dez. de 2024

Com um romance clichê bastante despretencioso, McQuiston escreve uma história que excede as expectativas, que já eram altas.

"De repente, o que era para ser um universo paralelo irônico precisava ser um universo escapista paralelo, porém realista, capaz de aliviar um trauma"

Essa frase é dita pela autora nos agradecimentos do seu livro e isso revela muita coisa a respeito do grande, e ao mesmo tempo simples, universo criado por Casey McQuiston. É um livro que, em meio a onda de conservadorismo que tomou conta dos Estados Unidos, com mais força a partir de 2016, fala sobre a esperança e o amor. A premissa do enredo é simples, o jovem filho de uma presidente dos Estados Unidos se apaixona pelo jovem príncipe britânico, o que me fez pensar que o livro teria cara de uma fanfic - e de fato tem, mas a história, com certeza, é mais que isso.


O livro de estreia de Casey McQuiston é um livro de representatividade: a família da presidente dos EUA tem origens latinas e outras muitas personagens fazem parte da comunidade LGBTQ+. Além disso, é um livro de esperança; um livro escapista (como ela mesma disse), capaz de aliviar um trauma e, acima de tudo, é um livro do amor - não de qualquer amor, mas do Amor em si. É um livro em que o Amor é o protagonista e Alex Claremont-Diaz e o príncipe Henry são os meios pelos quais o amor se manifesta.


A escrita da autora é jovial, fluida e muito simples e essa simplicidade é envolvente e se reflete na história simples, mas forte, que move as personagens em Vermelho, Branco e Sangue Azul. Por falar em história, ela não é forçada e os acontecimentos ocorrem de maneira delicada e completamente verossímil. As coisas não acontecem por acontecer ou porque a autora quis que acontecesse, mas porque, na história que ela propõe contar, elas fazem sentidos e são importantes. São coisas que nos fazem entrar dentro do contexto da história e nos dão uma proximidade maior com as personagens. Além disso, os acontecimentos fluem numa velocidade adequada - nada é acelerado, nem muito lento demais. O amor dos protagonistas, dado o contexto complicado em que ele nasce (qual seja, o desprezo de um pelo outro), acontece naturalmente e de uma forma bonita e emocionante.


Aqui, vale a pena ressaltar que "não ser forçada" não quer dizer que a história seja livre de clichês, pelo contrário, eles estão muito presentes, afinal, quem nunca viu uma história em que dois inimigos mortais são obrigados a conviverem em paz, deixando o ressentimento de lado por causa de algo maior, e acabam ficando próximos, pois passaram a enxergar a verdadeira essência de cada um? Entretanto, os clichês funcionam perfeitamente no enredo, e isso acontece em parte por conta de se tratarem de dois personagens que não são heterossexuais; e a história é exatamente essa: mostrar que a vida é feita de clichês, independente da pessoa que a vive.


E, na obra de McQuiston, quem vive essa história repleta de clichês é Alex e Henry. A autora cria personagens fictícios que poderiam muito bem ser reais, com os quais o leitor se identifica, possibilitando que ele sofra quando esses personagens sofrem, ria, quando eles riem, e ame quando tais personagens amam. E, felizmente, isso acontece com todos os personagens (ou quase todos, como veremos), os quais são tão verossímeis que fazem com que os diálogos e interações entre eles sejam muito reais - melhorando ainda mais a experiência do leitor na hora da leitura.


Há ressalvas quanto à criação de alguns personagens, mas, para mim, até nisso tem um propósito. Parte da família real britânica, com exceção do protagonista e de sua irmã Bea, é caricata: Phillip, o irmão mais velho, é a personificação do sucessor perfeito para o reinado perfeito e a rainha é uma senhora intocável, aparentemente sem sentimentos, ligada à aparências. E isso faz o total sentido, se levarmos em conta que esses personagens são exatamente os sujeitos imutáveis, os quais não estão abertos ao diálogo e, principalmente, ao amor.

"O que eu pretendia fazer, e tomara que eu tenha feito agora que você terminou de ler, meu caro leitor: ser a faísca de alegria e esperança de que você precisava"

Nada melhor para encerrar essa humilde opinião sobre o primeiro livro de Casey McQuiston do que essa outra citação de seus agradecimentos. Posso dizer que Vermelho, Branco e Sangue Azul é sim uma faísca de alegria e esperança, e, como venho dizendo, de amor. Mais que isso, é uma história que trata de temas (ainda!) polêmicos, como sexualidade e política, de forma límpida e natural.


Vermelho, Branco e Sangue Azul foi o primeiro livro que li em 2020 e já arrisco a dizer que provavelmente estará entre meus favoritos do ano.


Por fim, espero que minhas palavras, também, sejam uma faísca de alegria, de esperança e de incentivo para você que, por um ou outro motivo, tenha tirado seu tempo para ler esse post.


Até a próxima! Grande abraço :)


Ah, e fique à vontade para conversarmos sobre esse ou outros livros nos comentários e nas minhas redes sociais!

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